“Tudo que vem do acaso é instável.”
“Aquilo a que chamamos acaso não é, não pode deixar de ser, senão a causa ignorada de um efeito conhecido.”
“O acaso encontra sempre quem saiba aproveitar-se dele.”
“O que é acaso em relação aos homens é desígnio em relação a Deus.”
“O acaso não existe: tudo é ou provação, ou punição, ou recompensa, ou previdência.”
“O acaso em algumas coisas pode mais que nossos cálculos.”
“Os acasos só favorecem os espíritos preparados.”
“O acaso é o maior romancista do mundo; para se ser fecundo, basta estudá-lo.”
“Aquele que não deixa nada ao acaso raramente fará coisas de modo errado, mas fará pouquíssimas coisas.”
“O acaso é o grande mestre de todas as coisas. A necessidade só vem depois, não tem a mesma pureza.”
“a ingenuidade é algo que.se perde aos poucos, e no andar do tempo vai se escondendo, e se torna irrecuperável do dia para a noite….”
” O acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído”….
um amplexo
Marcelo Lisboa
é verdade
ótimas reflexões
poema
Acaso
No acaso da rua o acaso da rapariga loira.
Mas não, não é aquela.
A outra era noutra rua, noutra cidade, e eu era outro.
Perco-me subitamente da visão imediata,
Estou outra vez na outra cidade, na outra rua,
E a outra rapariga passa.
Que grande vantagem o recordar intransigentemente!
Agora tenho pena de nunca mais ter visto a outra rapariga,
E tenho pena de afinal nem sequer ter olhado para esta.
Que grande vantagem trazer a alma virada do avesso!
Ao menos escrevem-se versos.
Escrevem-se versos, passa-se por doido, e depois por gênio, se calhar,
Se calhar, ou até sem calhar,
Maravilha das celebridades!
Ia eu dizendo que ao menos escrevem-se versos…
Mas isto era a respeito de uma rapariga,
De uma rapariga loira,
Mas qual delas?
Havia uma que vi há muito tempo numa outra cidade,
Numa outra espécie de rua;
E houve esta que vi há muito tempo numa outra cidade
Numa outra espécie de rua;
Por que todas as recordações são a mesma recordação,
Tudo que foi é a mesma morte,
Ontem, hoje, quem sabe se até amanhã?
Um transeunte olha para mim com uma estranheza ocasional.
Estaria eu a fazer versos em gestos e caretas?
Pode ser… A rapariga loira?
É a mesma afinal…
Tudo é o mesmo afinal …
Só eu, de qualquer modo, não sou o mesmo, e isto é o mesmo também afinal.
Álvaro de Campos, in “Poemas”
Heterónimo de Fernando Pessoa