Soneto
Gregório de Matos
Pequei Senhor, mas não porque hei pecado,
Da vossa piedade me despido,
Porque quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto um pecado,
A abrandar-nos sobeja um só gemido,
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida, e já cobrada
Glória tal, e prazer tão repentino
vos deu, como afirmais na Sacra História:
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada
Cobrai-a e não queiras Pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
Dizer qual sua epoca literaria, interpreta-lo, e o que ele transmiti de interessante.
Agredecerei muiiito
época literária: Barroco
O eu-lírico pede perdão dos seus pecados e até desafia a Deus a perdoar, qaue nada ganharia se o condenasse à perdiçao ao inferno.
Transmite de interessante que é importante ser humilde, mas que não adianta humilhar-se, melhor é exigir os seus direitos, sem ser petulante e deveras provocante.
É só você ler sobre o Barroco para entender.
O Barroco é caracterizado pela aproximação de contrários, por contrastes, por um tempo de crise, em que a razão começa a invadir o terreno da religião, que declina. As pessoas começam a se questionar sobre o poder do homem sobre o mundo, consequentemente sobre a alma, sobre a priorização da vida terrena ou da celeste. É tempo em que desponta a ciência e a ideia de Deus é afetada; é quando A Igreja Católica se torce e enfraquece após a Reforma Protestante. É o fim da Idade Média e o início da Idade Moderna. Todo um processo que tem início no Renascimento, e que tem no Barroco um ponto crítico.
Esse poema, escrito pelo Gregório de Matos, o nosso primeiro grande poeta, que era também conhecido como Boca do Inferno, reflete bem esse período. O sentimento expresso pelo eu-lírico é de dualidade, por um lado teme por sua alma, por outro, usa da razão para salvar-se. Pode ser entendido como uma confissão do próprio Gregório, que tinha uma vida atribulada, não se cansava de criticar a Igreja, mas sendo um homem do seu tempo também deveria temer por sua alma.
Pois bem, no texto, o eu-lírico sabe-se pecador e roga perdão a Deus, mas, ao mesmo tempo, usa de uma artimanha racional para defender-se da ira divina.
É como se ele negociasse com Deus e disesse: se eu pequei, na minha fraqueza humana, não sou por isso um desafeto de Deus, já que é no perdão aos pecadores que Deus encontra alegria. Deus é grande justamente porque sabe perdoar, e quanto maior for o pecado, maior será a sua grandeza ao perdoá-lo.
Os versos são rebuscados e propositalmente confusos, aproximando contrários, como “piedade/pecado”, “delinquido/perdoar”, “pecado+irar/perdão+lisongeado”, “perida/cobrada”