Alguém já viu algum “Declarandário”?

Enquanto muitos fazem um balanço das ações passadas e elaboram projetos de sonhar 2011 como um calendário, eu resolvi fazer um meu declarandário…

…É que temos tantos milênios pelos genes e eles me explicam pouco dos dias que passam.
Tanta poeira e tanta aragem desgastando os ossos de tal sorte e malas-arte
que eles até assoviam polidos nas ruas de lembrar-te e nas esquinas de querer-te e de esperar-te.

Eu não compreendo os quês dos atuais calendários, essa invenção que rouba ao sol os rastros que ele faz no chão,
que marca e enruga o rosto e põe um adeus doído em cada mão.
Mas hoje decidi – e isto tinha que se dar mesmo a qualquer hora:

-Não posso mais continuar te amando, desmedidamente, como faço agora.
Resolvi que neste próximo ano executarei um plano de querer-te muito, mas… racionalmente.

Alguns dias, um mês ou outro. Somente!
Nada de esquecer de tudo para estar contigo a todo instante.
– Vês como estou pálido? É que roubaste o sol, ou antes, tu o ofuscaste.
– Onde as estrelas foram, que não mais as vejo?
… Tenho tentado, em vão, rabiscar meus desejos nessas espáduas nuas;
Meus instintos enlouqueceram e minhas ilusões são tuas!
Não podes, mesmo sob o pretexto de iluminar as noites, tomar minhas madrugadas de sonhar.
Assim, nesta folhinha vou riscar:

…Janeiro! Sim, Janeiro é o mês das chuvas e eu te amarei demais. E ficaremos juntos, ouvindo o canto das goteiras e o coaxar das rãs bobinhas e solteiras, saltitantes e soltas por tantos quintais.
Assim… em Janeiro eu te amarei por completo,
como queres, como posso, como quero, como devo.

…Fevereiro, é bem curtinho, não faz mal que ainda não seja carnaval. O verão está solto e nos convida a festejar e sorrir em cada abraço. Não quero deixar-te só nem com ninguém. Posso sentir-te a falta… Claro está: nesse mês, só mais um pouquinho, eu te amarei também.

…Mas então Março em que viajas comigo em férias, como vai ficar ? Sem ti não posso ir e preciso incluir
também Abril que vou me fantasiar de mim, eu mesmo, para te amar e não é muito… o mês, se lembro, tem só trinta dias…

Mas agora chega !

Quero poder ouvir as melodias no meu rádio, andar descalço pela praia, sentir o perfume das rosas no jardim…
Ninguém me chamará… Só tu te lembrarás de mim…

…Pois é… Maio é o mês de Maria, o símbolo do amor, intenso, imaculado, imenso; por isso eu vou querer te amar
também agora, como um louvor e respeito à Nossa Senhora.
…E eu quase me esquecia que depois, em Junho – posso juntar também o mês vindouro – faz por aqui um
inverno frio e eu preciso de ti junto à lareira. Não posso deixar-te agora;
… esses meses… risco fora !

…Deixa-me ver…Agosto ! Sabes bem, é tenebroso. Quantos desgostos e infortúnios caminham nesses dias,
lado a lado, aos pares… Não ! Não posso correr nunca o risco de chorares. Preciso estar contigo, como eu disse.

Tirando Setembro pois que é o mês das flores, já posso deixar-te. Antes, quero trazer-te um buquê todo dia
para saberes como existem flores tão bonitas quão bonita és tu.
Quero escorrer meus dedos pelos teus cabelos e acariciar teu dorso perfumado e nu.
É só! Prometo a mim mesmo. Nada mais ! Nenhum momento mais me tomarás !

Outubro e Novembro são dois meses em que não penso amar-te. Mas… no meu quarto, no meu chão, no meu
caminho, vejo marcas de ti por toda parte… E o que serão dois meses mais para ficar contigo?…Não posso
brigar com esta saudade tanto tempo. Perdoa-me se pensei…. Não posso, então, deixar-te!

…Dezembro.. Dezembro…
– Mas não é em Dezembro é que é tu fazes ano ? Como esquecer do teu aniversário?
Equivoquei-me: em dezembro não poderia nunca machucar teu coração de amante..
…Como vou cantar, se eu me afastar de ti ?
… E como cantarás sabendo-me distante ?
Além de tudo é Natal. É o mês do amor maior e JC mandou-me amar a todos os que eu encontrar.
Assim eu te amarei demais aqui também, vou anotar no calendário.

– Pronto ! – Estás contente ? Tomaste-me de novo o ano inteiro, porque neste ano novo, inteiramente,
eu te amarei em tudo e assim completamente,
como queres, como posso, como quero, como devo: profunda e indefinidamente!
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