gente preciso de alguns contos….?

Eu vi a menina cair da laje

Sexta-feira! Acordo pesado, achando haver engordado uns dez quilos. Alguma coisa me aborrece e acho que não saber o que é, é que é o pior. Talvez esteja aborrecido comigo mesmo, por não ter saído da cama mais cedo e executado o que havia me determinado, na noite anterior. Definitivamente eu não obedeço a mimi mesmo, e depois me aborreço.
Saí para ir à mercearia buscar ração para os cães e trocar um cheque. Voltei. Servi ração para Suzi, que antes pareceu-me ter tanta fome! E ela não comeu quase nada. Rex me irritou um pouco mais, pois meteu a pata na vasilha e espalhou toda a ração. Suzi teve sede e lhe dei água.
Aceso, apanhei As Palavras e as Coisas. A ordenação do mundo é alguma coisa mesmo inquietante. Ordenação pela nomeação. Nomeação pelas semelhanças. ”E Deus criou o homem a sua imagem e semelhança”. Somos a imagem de Deus num espelho quebrado.
Um barulho, entre tantos, despertou-me a atenção. Estava sentado debaixo da ameixeira, lendo. Quando me voltei, vi um pombo tentando furar o o saco de ração. Tentei pegá-lo e ele escapou. Mas, sabia que ele retornaria. Meti o saco de ração numa velha lata de dezoito litros, uma espécie de armadilha. Não demorou muito e ele voltou direto ao canto onde esteve pela primeira vez. Contornou a lata quatro vezes consecutivas, e na quinta, andou noutra direção. Retornou novamente ao ponto inicial. Contornou a lata, tomando, mais uma vez, outro rumo. O rumo de Rex, que dormia tranqüilo, ao sol e ao vento que sopra nos princípios de Setembro. Dormia. Eu observava tudo. O pombo já não se importava mais em achar o escondido. Catava, despreocupado, os grãos que Rex havia derramado. Depois de muitos grãos, ele voou.
Voltava ao livro, mas lá embaixo, dois quintais à esquerda do meu, sobre a laje, andava rapidamente a menina. Meu Deus, ela vai cair! Aproximava-se, perigosamente, da beira… Vai tropeçar no cano, que não está a mais de dois palmos do fim da linha! Eu grito, um grito surdo. Ela pára. Melhoro meu ângulo de visão, e há um garoto embaixo. Eu o advirto de que a menina pode se machucar. Ele parece não me entender…Aparece, finalmente, talvez a mãe da menina. Estende, tranqüilamente, algumas peças num varal e, em seguida, passa a xingar o garoto lá embaixo. Era como se não visse a menina a um passo da queda. Depois de alguns instantes, , que pareceram longos demais, ela, a mãe, volta-se para o lado, dá a mão à menina, que tenta acompanhar aqueles longos passos, e em seu esforço, suas calças descem, dificultando-lhe ainda mais seguir aqueles passos de gigante.
FernanRamos

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