Nem sempre são as palavras que falam?

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As palavras…
Ah! as palavras!
Aqui, privados da visão a que nos submetemos,
sem a proximidade que produz abraços de verdade,
elas formatam-nos como formos bem ou mal escultores dos verbos.
Traem-nos, à falta de um significado mais profundo;
na simplificação ou imperfeição que mora no vocábulo incorreto,.
ou no descuido à pontuação que torce o dito, como o vento, a direção…

-Mas podem mesmo desenhar um sentimento e uma feição?

Um retrato falado!
Não é igual, note, parece uma caricatura.

-Como representar a orgástica expressão da saudade no reencontrar de almas queridas?
-Têm elas a linguagem do ser sensível que mora dentro do escafandro que nos aparenta?
…embaixadoras do anjo bom que mora em nós ou espadas de longos gumes?
Amarmo-nos tem vários componentes.

Vou contar-lhes uma história minha.
Se a pressa o domina, junte-a nos “depois” (origens de alguns “nunca mais”).

Numa visita das que fazia ocasionalmente nas Casas André Luiz, que abrigava, na época, 900 crianças especiais, conheci um menino de cerca de 5 anos – não lembro mais o nome, vou chamá-lo André.

Tinha uma paralisia total e repousava num berço branco como um anjo que dorme.
(Não sei se os anjos dormem, nem nunca vi um, mas quando eu desenhava era parecido com ele que eu fazia). A pele quase transparente e o respirar sereno indicavam que ali estava aprisionada uma ave ferida, de asas quebradas. Lembrei meus irmãos, os filhos que eu ainda teria, aves de arribação; se, como e para onde voariam…

Chamei-o pelo nome:
– André!
-Não adianta falar-lhe. Disse-me o instrutor. Ele não ouve, não fala, não reage. Está como quem está em coma. Os olhos claros, parados, distantes, numa direção do teto…
Mas insisti e continuei a falar-lhe como se me ouvisse e me compreendesse. Falei-lhe que tinha irmãos pequeninos como ele; perguntei-lhe se estava bem, se eu podia fazer-lhe alguma coisa, contei-lhe uma história e principiei a fazer uma oração.

…de súbito pude notar que o seu olhar claro e brilhante fixou-me enchendo-se de luz e como se entendesse, um rubor lhe tomou a face toda e o frágil corpinho estremeceu.

…Houvera respondido no idioma possível! A ave se agitara, querendo voar.

Como é a sua comunicação, o que ela fala de si, como falamos de nós?
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(¸.•*¨*•►Tipo assim… nem sempre o que se quer saber se diz, May Dalla. Às vezes é preciso desvendar. Não adianta perguntar quando é no olhar que moram as respostas[Maristela].

Há um entendimento que transita no silêncio que se abraça ao tempo de esperar. Nele as palavras não erram [Lupita]. Ou encolhem ou se ampliam, ganham significados pessoais.

É o silêncio cheio de dizeres que aplainam ou cortam, como diz Fedra, rápido, direto.
Diz-se que há “meias palavras” mas nunca alguém disse que há “meios silêncios”.

Não chego a concordar com Tammy de que são os prazeres que ficam. Estes são quase como que armadilhas para a dor que vai varrendo o que sobrou da festa. Mas nem mesmo esta, a dor, é permanente aos que dela despertam e a fazem mestra de amanhãs. E as palavras só são esquecíveis quando não deixam cicatrizes nem são facas; e também quando é a afeição que fala, quando espalham luzes ou perfumes na alma, nunca mais esquecemos.

Essa criança, e, assim, outras aves f
Essa criança, e, assim, outras aves feridas, não têm os dispositivos biológicos de manifestação visual, aparente, convencional, mas são ainda aves sensíveis como podem ou conseguem [Tempestade – Maria Clara]. Havemos de buscar, por ora, o entendimento num sutil tremor, rubor, esgar, mesura [Alane] que também falam de nós. Falaram dela. Mas eu bem sei que um dia esse André também vai poder voar, tenho certeza disso.

Somos energias sim, Nazareno… vibrantes, dançantes, cantantes, mutantes. E em casos como o que eu citei, a lógica de Ser, do Destino e da Dor atende mais a transcendência de uma Consciência Cósmica, que evidencia tudo permear, do que os modelos matemáticos que entendemos. É a equação da espiritualidade.

Amigos queridos, agradeço.
Abraços.