o que e tempo biologico?

eh tempo surrateiro sem que nem pra que

UMA INTRODUÇÃO AO TEMA
Luiz Menna-Barreto

A matéria viva aparece para nós como organização essencialmente espacial, ou seja, vemos formas e cores, definimos órgãos e sistemas e buscamos princípios de organização nas relações espaciais entre organismos e entre partes de organismos. O tempo costuma aparecer quando observamos organismos em movimento e as relações espaciais mudam, mas mesmo nesse caso o tempo não passa de um cenário inerte onde a matéria viva se modifica, espacialmente. É possível que esta forma predominantemente espacial de pensar sobre a matéria viva esteja nos impedindo de perceber alguns aspectos essenciais da organização os seres vivos e que a incorporação de uma dimensão temporal possa enriquecer nosso conhecimento. Entretanto, existe algum sentido em pensar sobre uma dimensão temporal enquanto determinante da organização da matéria viva?

Uma outra forma de colocar a questão é perguntar se tem sentido pensar sobre um tempo peculiar dos organismos vivos, um tempo “biológico”. Rémy Lestienne (1988) tenta demonstrar que sim, remetendo a particularidade do tempo biológico para a questão da irreversibilidade do fluxo do tempo quando se trata da matéria viva. Procura-se assim caracterizar o tempo como dimensão fundamental da matéria viva. Essa abordagem, que pode ser encontrada em um artigo específico ( Menna-Barreto & Marques, 2002), vai orientar nossa discussão.

Animais e plantas mudam conforme o clima, a hora do dia e estações do ano, espécies surgem e desaparecem, enfim a vida aparece como movimento permanente. Essa dinâmica sem a qual a vida não teria sentido, pelo menos tal como ela aparece para nós, pode ser então considerada como um dos aspectos essenciais da organização dos seres vivos. Admitir o tempo como uma dimensão fundamental da organização da matéria viva implica o reconhecer que a matéria viva tem uma história; mais do que isso, implica buscar na história de um animal ou planta uma das determinações fundamentais de seu estado atual. Admitir o tempo como dimensão fundamental significa reconhecer o caráter determinante que a organização temporal tem sobre a viabilidade das espécies (Cerejido, 1988). Voltaremos a esta discussão sobre aspectos evolutivos da ritmicidade biológica mais adiante, nos Capítulos 11 e 12.

A organização temporal de um ser vivo se expressa de duas formas: enquanto reação a estímulos ambientais e como ritmicidade. Essa segunda forma é a menos evidente mas nem porisso a menos importante. Hoje sabemos que células da cortex adrenal e da retina mantidas em cultura apresentam atividade metabólica cíclica. Sabemos também que órgãos e sistemas variam regularmente como é o caso das flutuações na excreção urinária de sódio e potássio em mamíferos, organismos alteram periodicamente seu comportamento, como tem sido demonstrado para o ciclo vigília/sono em indivíduos isolados em ambientes cujas condições são mantidas constantes; mesmo o comportamento de populações pode ser melhor comprendido com a admissão da existência de ciclos, o que se verifica na migração de aves e na hibernação, por exemplo.